VIOLÊNCIA
Excelente artigo de Clóvis Rossi - Leiam.
A violência ganhou, azar o nosso.
Folha de S Paulo - 13 de junho
Vandalismo, crimes hediondos, está criada uma cultura violenta que nos rebaixa em ranking global
Saiu mais um ranking mundial, o GPI (sigla em inglês para Índice da Paz Global). O Brasil, de novo, faz papelão: é o 81º colocado entre 162 países, na metade exata da tabela e imediatamente atrás da Libéria, país que enfrentou duas guerras civis a partir dos anos 80.
O GPI é feito pelo australiano Instituto para a Economia e a Paz, avalizado por figuras como o arcebispo Desmond Tutu, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan e o Dalai Lama, entre outros pacifistas.
Suspeito que o Brasil terá pior colocação no "ranking" de 2014, porque o de 2013 não capta dados como as mortes de violência exponencial ocorridas recentemente nem o vandalismo embutido nas manifestações contra o aumento das tarifas de transporte. Esses episódios demonstram que a violência ultrapassou qualquer limite civilizatório.
Não se trata de criminalizar manifestações de protesto. São direito indissociável da democracia. Mas nem na ditadura as manifestações resvalavam para um ataque tão indiscriminado ao equipamento urbano como está ocorrendo agora.
O belo texto de Giba Bergamim Jr., publicado na Folha de ontem, mostra que os limites foram violentados. Reproduzo: "Um policial e um manifestante caíram no chão atracados. Cerca de dez pessoas começaram a agredir o PM com pedras, socos e chutes. Mesmo atingido, ele se levantou. De pé, sangrando, o policial apontou a arma para o grupo. Não disparou."
Tivesse disparado, seria liminarmente condenado, enquanto seus agressores ficariam como vítimas da brutalidade policial, certo?
Errado. Vítima da brutalidade --da polícia, de manifestantes e de assaltantes-- é uma sociedade refém de uma violência que se tornou traço cultural predominante, se se pode pôr cultura nesse caldo.
E não é apenas no Brasil. O GPI mostra que "o mundo se tornou menos pacífico, com agudo aumento no número de homicídios".
A partir de 22 indicadores quantitativos e qualitativos, o relatório vê um planeta 5% menos pacífico de 2012 para 2013.
Em 110 dos 162 países avaliados, a situação piorou de 2008, ano do primeiro GPI, para cá.
Deixo para antropólogos, sociólogos, cientistas sociais em geral analisar as causas do fenômeno, pois um mero repórter não tem instrumental para tanto.
O fato é que a violência está tornando a vida um inferno em boa parte do planeta, em especial nos países ditos emergentes e em desenvolvimento. Em São Paulo, então...
Se a violência não consegue emocionar as autoridades a ponto de levá-las a sair da letargia, que se emocionem com os seus custos econômicos: o GPI calcula que o impacto da contenção da violência seria de 11% do PIB global, equivalente a US$ 9,46 trilhões (R$ 20,3 trilhões). Suficiente para pagar toda a dívida dos países em desenvolvimento, fornecer fundos para a Europa socorrer seus países em crise e para custear as medidas necessárias para atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio.
Nem menciono as vidas que seriam salvas porque vidas não contam muito hoje em dia.
Vandalismo, crimes hediondos, está criada uma cultura violenta que nos rebaixa em ranking global
Saiu mais um ranking mundial, o GPI (sigla em inglês para Índice da Paz Global). O Brasil, de novo, faz papelão: é o 81º colocado entre 162 países, na metade exata da tabela e imediatamente atrás da Libéria, país que enfrentou duas guerras civis a partir dos anos 80.
O GPI é feito pelo australiano Instituto para a Economia e a Paz, avalizado por figuras como o arcebispo Desmond Tutu, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan e o Dalai Lama, entre outros pacifistas.
Suspeito que o Brasil terá pior colocação no "ranking" de 2014, porque o de 2013 não capta dados como as mortes de violência exponencial ocorridas recentemente nem o vandalismo embutido nas manifestações contra o aumento das tarifas de transporte. Esses episódios demonstram que a violência ultrapassou qualquer limite civilizatório.
Não se trata de criminalizar manifestações de protesto. São direito indissociável da democracia. Mas nem na ditadura as manifestações resvalavam para um ataque tão indiscriminado ao equipamento urbano como está ocorrendo agora.
O belo texto de Giba Bergamim Jr., publicado na Folha de ontem, mostra que os limites foram violentados. Reproduzo: "Um policial e um manifestante caíram no chão atracados. Cerca de dez pessoas começaram a agredir o PM com pedras, socos e chutes. Mesmo atingido, ele se levantou. De pé, sangrando, o policial apontou a arma para o grupo. Não disparou."
Tivesse disparado, seria liminarmente condenado, enquanto seus agressores ficariam como vítimas da brutalidade policial, certo?
Errado. Vítima da brutalidade --da polícia, de manifestantes e de assaltantes-- é uma sociedade refém de uma violência que se tornou traço cultural predominante, se se pode pôr cultura nesse caldo.
E não é apenas no Brasil. O GPI mostra que "o mundo se tornou menos pacífico, com agudo aumento no número de homicídios".
A partir de 22 indicadores quantitativos e qualitativos, o relatório vê um planeta 5% menos pacífico de 2012 para 2013.
Em 110 dos 162 países avaliados, a situação piorou de 2008, ano do primeiro GPI, para cá.
Deixo para antropólogos, sociólogos, cientistas sociais em geral analisar as causas do fenômeno, pois um mero repórter não tem instrumental para tanto.
O fato é que a violência está tornando a vida um inferno em boa parte do planeta, em especial nos países ditos emergentes e em desenvolvimento. Em São Paulo, então...
Se a violência não consegue emocionar as autoridades a ponto de levá-las a sair da letargia, que se emocionem com os seus custos econômicos: o GPI calcula que o impacto da contenção da violência seria de 11% do PIB global, equivalente a US$ 9,46 trilhões (R$ 20,3 trilhões). Suficiente para pagar toda a dívida dos países em desenvolvimento, fornecer fundos para a Europa socorrer seus países em crise e para custear as medidas necessárias para atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio.
Nem menciono as vidas que seriam salvas porque vidas não contam muito hoje em dia.
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